quarta-feira, 13 de junho de 2007

Corrente do Pensamento

Preguiça. Movimento contrário ao trabalho. Por isso me dou tão bem com ele. Lá no fundo da paixão.... Pêra aí! Música. Isso é uma música! ‘Lá no fundo da paixão’. Bom, se não é, deveria ser. Se não é, parece ser. Enfim, preguiça. Estou deitado, faz horas. Não durmo. Não, não durmo. Mais do que acordado, estou ciente. Paro, penso, e uma vozinha dentro de minha cabeça diz: “Levanto? Durmo?” Nunca chego à conclusão. Triste, triste a imagem da instituição da preguiça.

Nossa, quanto “da” na última frase.

Serei lembrado, por poucos, mas serei lembrado por ser da maneira que sou. Essa maneira aprova a preguiça. O sentido aristotélico, você diz. Hum, talvez. Nunca li Aristóteles. Para que ler o que não me interessa? Para isso que servem empregos, universidades, etc. Não me sinto a vontade quando obrigado. Ao invés, fico pensando, delirando, sonhando com o que pode ser. Nunca vai ser mesmo. Pelo menos tenho tempo para pensar.

Ah sim, isso me lembra uma coisa. Já amei. Sim, sim, já amei. Sou roteirista do cotidiano. Logo, amei. Quem não se apega, não se entrega. Quem não se entrega, leva consigo o peso da ubiqüidade: deve estar a todo instante em vários lugares. Fixar-se, e prender-se, é permitir se apaixonar. Não sou fã do antagonismo: uma pessoa, vários lugares. Sim, portanto, amei sim. E como! Para falar a verdade verdadeiríssima, sempre vou amar. Amá-la. A má lanterna, que utiliza toda energia para iluminar meu caminho escuro. O problema está na escolha do caminho. Eu escolho? A luz escolhe? Tenho escolha? Alguém escolhe? Acho que sim. Prefiro me sujeitar às escolhas de outro ao me deparar com a incerteza proveniente da minha escuridão.

Como é que é? Está determinado. Deixe-me em paz por agora, labirinto da mente. Desculpe. Travei conflito com minha cabeça. Ela quer pensar. Eu quero sentir, e me unir à cama. Sinto-a. Amo-a. Sua pele entorta minha visão, recobre todo meu pavor, e enche-me de ilusões. São sonhos. Abertos, sorrindo, livres para me espantar, mas nunca irremediáveis. Pano branco, azul, lápis de cera. Ela me apóia em todo momento imprescindível à existência. Ela me apóia. Ela me sustenta. Mesmo quando não a agrado. Isso é o amor. Fases distintas, florescendo raras intervenções.

Pois é. Amei uma mulher. Faltava-me preguiça à época. Dizem que com o tempo, acostuma-se com o indivíduo. Nada mais lhe é novo. Nada mais é novo para mim. Assim, o ser humano se afasta. Busca o novo. Encontra novo. Novo, vira velho, busco outro novo. Mas o meu amar....Meu amar surgiu do nada. Aliás, surgiu do álcool. Surgiu da tentação produtiva, do nexo causal desfeito de conseqüências. Talvez por isso, nunca me cansei. Aquele cheiro. Aquele cheiro. Ele era sempre novo. Sempre envolvente, sempre alarmante. “Beija-me,” ele dizia. “Esconda-se em mim,” salteava o som ao meu nariz.

Perdia noção de minhas regras. De meus temores, pudores, e todos os outros “ores”. Só queria amar. Amar, amar. É, é assim. A mar. O mar é aquele negócio gigante, cheio de vida, cheio de morte, manso, feroz, impelido pelo vento, desgarrado da vontade humana. A mar, por sua vez, encontra-se no bojo do universo e enfeita meus pensamentos, minhas viagens. Somente um ser feminino poderia fazer tanto. O espírito de a mar está repleto de saúde, e resplandece isso a todo momento. Dica dos filósofos: Procure saber o significado literal da palavra, aconchegue-se nas estruturas lingüísticas para decifrar o verdadeiro intuito por trás do significado. A mar, logicamente, é o feminino de o mar. Claro, não é preciso estudar muito para ver isso. Por isso mesmo que percebi.

A mar, então, devolve-me toda vontade, e extradita minha preguiça. Essa moça, esse mulherão, me concebe no mundo. Joga-me para fora de meu íntimo, e me acaricia com palmas de veludo. Sou grato por isso. Mas não quer dizer que não goste da preguiça.

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