quinta-feira, 14 de junho de 2007

Devaneio robusto

Hoje fui inundado de perguntas. Nada me traz mais aflição. Bastam as perguntas montadas e remontadas em minha própria cabeça. Preciso escrever os acontecimentos a fim de refletir melhor sobre elas. Róbson não larga do meu pé, e, continuadamente me incomoda. Bom, relatarei aqui o diálogo que tive com ele, anteriormente. Acredito que nele estão inseridos todos os acontecimentos desse dia repleto de tréguas.

Róbson, estive pensando. Comer pão, ao lado do meu cachorro, me faz bem. Como explicar tal sentimento? Ah, isso já é pedir demais. Não estou aqui para lhe convencer a comer ao lado do seu cão. Só o digo a título de argumentação. Não quero comer ao lado de minha irmã. Pronto, ponto final. Prefiro comer ao lado de meu cachorro. A vontade foge de algum tipo de escárnia, ou aversão à figura de minha irmã. Não quero ofendê-la. Mas você a ouviu: Por que não comes ao meu lado? E tenhas a dignidade de me responder verdadeiramente. Assim, o fiz. Então por que a preocupação? Por que a angústia que estás sentindo? Se não é, pois, eu que lhe disse tudo. Acredite em mim.

Estou, na verdade, cansado desse formalismo necessário à comunicação. Argumento por argumento, palavra por palavra, lágrima por lágrima. Não. Esquece o que eu falei. Esse último que invoquei nada tem a ver com a pobre da linguagem. Ou pelo menos com seus aspectos formais. Maldita linguagem essa, que dita meus pensamentos e, ao mesmo tempo, restringe a expressão do que sinto. Como gostar de algo assim? Prefiro beijar, tocar, abraçar o mundo, do que falar sobre ele. Até porque falar implica abrangência do mundo alheio, como o seu, por exemplo. Não ria de mim. Estou a pensar, constantemente, nesses interlúdios, nessas pausas homéricas em que me perco dentro do meu próprio universo. HA, um louco consciente.

Sim sim, rimos juntos alguns momentos. Voltemos, porém à angústia inserida dentro do contexto. Aliás, essa interrupção destruiu toda construção ideológica de meu pensamento. Regresso inútil, parar e solicitar entendimento. Tudo depende dos nossos tremores. Você entendeu, diário, caro. Ser vivo, significa ter medo. Medo da morte, incessantemente ao nosso lado. Lembrando-nos da vida que temos. Jogue-me em cima dessa dama. Quero encontrá-la para agradecer, por todo sentido que ela possui e que possuirá em minha vida. Esboçamos uma compreensão, através de nossos medos perante ela. Aliás, que seria um significado sem o término do mesmo?

Pois então, vamos expandir minha colocação. Quero trazer vossa atenção de volta ao meu dia. As mulheres. Ah, sim, as mulheres. Como reprimem minha condução argumentativa. Queria conduzi-las à minha forma de pensar e elas percebem. Isso deve ser o problema. Minha irmã não concebe a idéia de ter vontades diferentes das existentes nos mortais comuns. Aí novamente, a minha dama. Morte, o ser é mortal, por todos sermos mortais, em algo não nos diferencia um do outro. Isso dá ensejo a uma contínua busca pelo enquadramento ideal da condição humana. Pois bem, ela se baseia na morte.

Como todos, então, minha pobre irmã reprime tudo o que acontece em minha mente por considerar minha linha de argüição diferente. Por exemplo, ousa-se a dizer que Róbson não existe, quando o vejo a todo o momento aqui, na minha frente. Quer me convencer, a coitada, mas carece de algo imprescindível para o feito: a lógica. Lógica interina aos falseamentos e construções argumentativas. Se somente soubesse o quanto lhe falta isso.

Ah sim, Róbson, estou de acordo. Existem coisas saudáveis à mente que não me remetem ao princípio lógico. Mas não estou falando disso. Refuto tal argumento por isso. Ele não cabe em meu sistema, nesse exato momento. Como assim que sistema? No sistema criado em minha cabeça para compreender seu fala, minha fala, a fala de minha estúpida irmã, durante o rastreamento vital. Poxa, não me faça rir. Não estou com a pretensão de dizer que toda vez que falo com alguém, penso num critério que devo usar a fim de esboçar meu pensamento. Mas quero dizer que há um pretexto por trás de toda conversa. Que esse seja convencionalmente estabelecido ou mesmo de forma espontânea, não importa. Mas há critérios pré-estabelecidos para o entendimento de uma simples frase. Ele não precisa ser unívoco, mas imprescinde de certos requisitos. Esses requisitos, em sua maioria, são lógicos. Como a lógica abrange uma quantidade absurda de argumentos, formulo meu próprio sistema. Assim, só argumentos plausíveis com minhas idéias são válidas.

O problema está justamente em transpor os meus indícios de realidade ao outro. Tenho ânsia por convencer. Ser justo para todos, por ditar o que é justiça em meu sistema. Afinal, não é assim que Deus funciona? Cria um mundo próprio, com regras próprias que ele, como detentor do sistema, dita. Se ele dita as verdades do sistema, é impossível que Ele minta. Acho que finalmente me entendeu, Róbson, quero que me entendam pelo meu valor. Pela minha santidade ecumênica. Se não eu, pelo menos minhas idéias são dignas de louvor, e, em especial, meu sistema. Acredita em mim? Mas não acredita que sou digno ou de que é isso que almejo? Finalmente, Róbson me compreendeu. A questão do dia, porém, fica. O convenci?

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