domingo, 24 de junho de 2007

12° Dia: Alegoria do Caldeirão Fervente (III)

o corpo caído
os olhos abertos
cor vermelho-sangue
a boca espumando
a face roxa
os membros rígidos

morte:
a velha conhecida
dos condenados à vida.

mataram a velha;
matou-se a velha;
matou a velha:
ele.

vento para bulir
vento para levantar
a existência

move a terra
levanta as saias
e arranca as palhas e as telhas das casas

e fogem todos
buscando a vida
que se move atordoada
enlevada pelo vento

e correm todos
como formigas perdidas
desordenadamente
a tentar resguardar
o que já não possuem

tudo rodopia
alcançado pelo redemoinho
um espiral de verdades:
dúvidas, perguntas e certezas.

certezas?
precisas das certezas?

depois o silêncio
o silêncio-surpresa
o silêncio-espanto
o silêncio-medo

ensurdecedor

não acreditas no que vês?
sente a água repousando
inquietamente sobre o teu corpo.
sente a água caindo do céu como balas,
perfurando a tua mente.

a velha
morte
caída
os olhos ainda abertos
tinha razão.

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